terça-feira, maio 06, 2008

Sou o que ela foi, ou quase

As profecias são sempre as mesmas. Tudo é muito previsível. Eu, Roberta; ela, Maíra. Os mesmo discursos e medos, os mesmos casos idealizados, o mesmo ciúmes. Os medos femininos não mudam, e não sei se é legítimo atribuir ao sexto sentido. Meu maior medo é receber confirmação do que demais perverso sinto. Vou sofrer, já sofro. Mas desta vez não vou deixar de viver. Não vou fazer um balanço de tudo isso. Amo. Até quando? Não importa, se eu pensar, acaba. Por isso, o importante é saber que nada é para sempre e não congelar frente aos sentimentos mais fortes. Comprei o bilhete, agora é só gozar a montanha-russa. Claro que acaba, mas e daí? Vamos na mesma, não? Concentro-me em uma coisa de cada vez, sem ter que abrir mão, por agora, do que me enche o coração. Assim como ele vive, eu também sinto. Se eu ficar mais exposta, bem, se tiver que cair e levantar, mas vale que me desfaça inteira para renascer melhor e mais forte. Se for para voar, que seja sem peso, sem rancores, sem medos. Estou nua para ambas. Com dúvidas, com amor, com desespero, com clareza... sempre dentro das minhas contradições. Agora eu compreendo, Roberta.

segunda-feira, abril 28, 2008

Conversas furtadas em um sítio arqueológico

- Estas construções são de 27 a.C. a 14 d.C.

- Mas isso não foi muito tempo...

- Pois, 2000 anos...

- Pois

Amor: 2 em 1

- Olá, meu amor!

- Oi querido...

- Preparaste o prato?

- Tive alguma dificuldade.

- Por que não ligaste? Disse que era só me telefonar que eu resolvia...

- Eu sei, mas a televisão parou, e...

- Mais uma vez! Assim fica complicado tentarmos construir as coisas.

- Eu sei, mas a tele...

- Estou farto de ouvir as mesmas histórias!

- Eu imagino, mas...

- Vou dormir!

- Está bem, boa noite e...

- Traga-me o prato.

- Já vou...

- ...

- Experimenta agora animal! Lambe..........

sábado, abril 19, 2008

15 minutos

Tinha o rosto hexagonal como os óculos, contornado de cabelos prateados muito bem aparados. Calculei que havia por volta dos seus 60 e tal anos, e o ônibus era o 40. Estava saindo da universidade, e subi na sólita parada. Ele já estava ali. Sentei-me a sua frente, a um banco de distância. Eu estava com meus óculos escuros e podia observá-lo secretamente. Pensei em tantas coisas. Era um homem bonito, bem vestido. Fiquei imaginando como seriam seus traços quando era mais jovem. Seria muito conservador? Terá sido um jovem rebelde? E depois as perguntas começaram a pegar o vento oposto. Parei um instante e pensei: poderia me apaixonar por ele? Por alguém na idade dele? O que os outros iriam pensar? Golpe do baú, certamente. A cabeça da gente é engraçada, faz cada conexão. O ônibus avançava lentamente, e a chuva distorcia a paisagem lá fora. Quando voltei a olhá-lo, seus braços estavam debruçados sobre o banco da frente e na mão esquerda chamou-me atenção sua aliança, simples mas bem acompanhada por um detalhe em diamante. E as perguntas continuavam a girar em mim. Levantei-me calmamente, dirigi-me à porta e desci minutos depois. Sua imagem ainda persistiu na minha memória por alguns passos. Aos poucos, fui voltando a minha quotidianidade e as perguntas voltaram a ser minhas conhecidas: o que vou preparar para o almoço?

segunda-feira, abril 14, 2008

Passado presente


Ontem fiz uma coisa esquisita, bebi óleo e comi cortiça.

Ontem fiz uma coisa engraçada, cortei o dedo e corri pelada.

Ontem fiz uma coisa diferente, bati contra o muro e quebrei um dente.

Ontem fiz uma coisa escondida, tomei banho e saí fedida.

Ontem fiz uma coisa alucinante, peguei no carro e parti o volante.

Ontem fiz uma coisa absurda, gritei pela janela que eu era muda.

Hoje ainda não fiz nada!


sexta-feira, abril 11, 2008

Estranha estupidez

Quando o grito sai, é tarde demais para pedir desculpas?

Quando erramos uma vez, o nosso pedido de perdão de nada vale?

Estupidez...

Quem são vocês que passam e nada deixam?

Que olham e nada vêem?

Um olá de quem por aqui fere!

terça-feira, abril 08, 2008

(: :) (: :)

Cala-te! Já disse que te amo...

Cala-te! O arroz ficou queimado no fundo da panela de alumínio...

Cala-te! Acabou o papel higiênico colorido...

Cala-te! Não gosto de bananas...

Cala-te! Tua mãe está dormindo...

Cala-te! Deixa morrer em paz...

Cala-te! Esta respiração me dá nojo...

Cala-te! És mesmo uma lua minguante...

Já disse que te amo?

Mesmo quando teu arroz queima na panela, quando vais ao supermercado e esqueces do papelo higiênico ou quando insistentemente me empurras bananas esmagadas com açúcar e canela...

Já disse que te amo?

Mesmo quando tua mãe insiste em não te ver e tu choras por dentro, quando gritas desesperada por ar, nesta tua gaiola dourada onde padeces todas as noites...

Se não disse... perdoa-me!

Amo-te!