sábado, setembro 29, 2007

velhas memórias


o processo de envelhecimento é decisamente difícil de aceitar. não estou a falar somente do nosso envelhecimento, mas os dos outros. vivemos em uma sociedade performática, acelerada e, principalmente, de pouca memória. mas essa mesma memória é também rígida e, por vezes, seletiva. temos dificuldade de abandonar a imagem que tínhamos dos nossos pais quando estes eram grandes, auto-suficientes, super-heróis. conseguir ver a fragilidade que pode trazer o efeito dos anos é um exercício mental muito grande. um simples episódio como retirar dinheiro no caixa automático, pode ser revelador. hoje é um dia chuvoso aqui em Braga, e realmente não sinto a menor vontade de sair de casa. sendo assim, dei meu cartão do banco à minha mãe para que ela pudesse retirar dinheiro e comprar algumas coisas para casa. menos de 5 minutos depois ela retorna à casa dizendo que o mercado estava fechado e, por isso, não teve necessidade em levantar o dinheiro. natural, não? se não fosse pelo ar constrangido do seu rosto. passadas algumas horas, perguntei se ela não queria descer para comprar as tais coisas. ela insistiu para que eu fosse junto. chovia, eu de pijamas, na minha individualidade e egoísmo, falei: mas mãe, é aqui embaixo! vai lá! foi quando ela disse: eu não falei a verdade, na realidade não consegui retirar foi o dinheiro. fiquei um momento incrédula, como é possível! tinha dito exatamente, passo-a-passo, o que era para fazer. ela ali, me dizendo que havia tentado duas vezes e nada, a tela não mudava. impossível! dizia. acabei descendo, ainda transtornada. como pode, minha mãe, que sempre fez tudo sozinha, não conseguir sacar dinheiro, ainda se estivesse escrito em japonês! descemos. entreguei o cartão à ela. tentou 3 posições diferentes antes de acertar. apareceu a tela, como havia dito, para colocar a senha: e ela... e ela... começou a apertar no vidro e satisfeita disse: não falei! agora não sai daqui! mãeeeeee, please, tá vendo este teclado aqui! aperta os números ali!!!!

4 comentários:

ix disse...

ow maira! :( o corpo pode apodrecer mas a mente da gente eh o que conta no final... tem que exercitar esses cerebrozitos!!! o mundo ja esta tao cheio de coisas para nos limitar (o stress, a intolerancia, a solidao...) e o impacto disso vai tao longe (no (auto) conhecimento, na pragmatica das coisas simples, nas relacoes interpessoais, nos horizontes, nos nossos paradigmas,...) que a gente tem que ser forte e esperto mais do que nas vezes necessarias, para poder superar as limitacoes (mesmo a passos lentos). pratica. peca a sua mae ao caixa eletronico todas as vezes que voce precisar! saudades! bjos nas duas!

Luciana Bonino disse...

Ei, é assim mesmo, os papéis se invertem... mamãe passou mal enquanto eu estive por lá, foi parar no hospital em uma crise de ansiedade por causa do casamento, o problema é que nào contou a ninguém que estava desde a noite anterior se sentindo mal! Igualzinho uma criança. A gente precisa ter paciência, muito amor e cuidado com eles, pois para eles tb é difícil descobrir que não são mais tão independentes quanto foram um dia.
Concordo com Ismênia, a cabeça precisa de exercício tanto quanto o corpo! Mexam-se!
Beijos cheios de saudades
Lu

PS: Voce ainda não me disse que dia chega por aqui!
Bj

Unknown disse...

pois eh, voce ainda nao disse que dia chega (chegam) por aqui!!! :P

d.m. disse...

saudades de vcs!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
:-(