sexta-feira, abril 27, 2007

Tentanto enxergar melhor


Os papéis estão todos ali à minha espera, eu sei. Ninguém pode me substituir naquilo que tenho para ler, ou para escrever. A verdade é que as coisas que saem da alma, essas saem sempre com tal fluidez que parece um movimento externo, algo independente, solto. É meu, mas vai sozinho. Nas outras coisas não. Tudo muito refletido, pensamentos e idéias que não conseguem encontrar um fluxo menos turbulento. Hoje dormi. Hoje comi. Hoje não li. Talvez a cobrança seja tão grande que me bloqueia antes de começar. Depois flui, pelo menos assim espero. Tenha calma, faz parte de um processo criativo, tento me convencer. E como será que os outros estão lidando com este estresse? Eu devo admitir que estou muito mal na administração do tempo e das prioridades letivas. Mas enfim, vou levando um dia de cada vez, um pouco com a barriga, um pouco com o estômago. Espero encontrar o quanto antes a habilidade de limpar bem as lentes dos óculos e tocar para frente sem muitos lamentos. Bom final de semana!

quinta-feira, abril 26, 2007

Dicotomia comestível

Era a mesa 29. Sentia-me pouco confortável, essa é a verdade. O lugar era muito amplo, com mesas muito arrumadas com toalhas brancas de algodão macio que cobriam as toalhas cremes de pregas à moda bolo de casamento. Escolhemos aquela mesa sem trocar uma palavra. Era encostada na parede na tentativa inútil de proteger-nos pelo menos em um dos lados. Não que buscássemos a proteção ou que precisássemos dela, somente pelo fato de aquele ser um almoço entre amigos dentro de um contexto, muitas vezes, pouco amigável. Aliás, estávamos submersos neste contexto. Desilusões, troca de impressões. Pouco falei, desta vez por opção. Muitas vezes me perdia nas suas palavras tão cheias de significado. Nestes momentos olhava os garfos e como os pousava no prato virados para baixo, um de cada lado. Antipasto. Vinho tinto escolhido por ele e muito apreciado por mim. Boa companhia. Muitas interrupções, afinal de contas era uma pessoa de muito prestígio e reconhecimento no nosso tal 'contexto'. E eu, naqueles momentos, queria apenas me volatilizar e depois voltar a me materializar. Por ele talvez, mas mais por mim. Aumentava o desconforto e pensava no que as pessoas estavam pensando ao me verem ali. Depois passava e voltávamos aos nossos fragmentos de conversa. Frango e salada para mim, carne e arroz para ele. Mais interrupções. Mais abstrações. Desta vez, olhava para o vinho e deixava ele repousar na língua antes de enrolir para adormecer o céu da boca. Ele falava, eu comia. Eu escutava, ele absorvia. E foi nesta gangorra de ações e pensamentos que passamos do doce ao café. Eu estava feliz por estar ali, apesar de constrangida. Não por ele, ou pelas pessoas, mas porque no fundo sabia de não pertencer àquele ambiente. Era tudo muito grande. Ele, a sala, as pessoas. 'Da próxima vez lhe convido para comer na cantina da universidade', disse na esperança de uma próxima vez. Nos despedimos rapidamente e a tarde prosseguiu um pouco mais leve, pelo menos na parte que me toca.

quarta-feira, abril 25, 2007

Ouvir o silêncio

Já estava se repetindo com uma certa frequência, mas para mim parece sempre a primeira vez. As mãos tremem, a garganta seca. Sinto-me transpirar e o calor que meu corpo propaga chega-me ao rosto ateando fogo. E que sensação maravilhosa, o tal frio na boca do estômago. Ouço meu coração tocar tambores que ecoam dentro de mim, uma melodia intensa, tribal. Aos poucos, tento desacelerar meu ritmo com respirações mais profundas. Vou acalmando-me. Chego a quase certeza de controle quando o silêncio impõe sua presença e os múltiplos olhares doam-me a palavra. No início, tímida, gutural. Depois larga, densa, cheia da minha alma. E quando tudo termina, o inesperado. Uma senhora simpática, priva de visão, pede a palavra após as palmas e diz: "Menina, hoje aprendi consigo a ouvir o que diziam os teus silêncios. Obrigada!". E eu, ainda transtornada pelo turbilhão de palavras que profecei, sorri imensamente grata por ter alcançado além dos ouvidos das pessoas.

terça-feira, abril 24, 2007

Esse cara é um mito!


"Acho a maior graça:

Tomate previne isso, cebola previne aquilo,
chocolate faz bem, chocolate faz mal,
um cálice diário de vinho não tem problema,
qualquer gole de álcool é nocivo,
tome água em abundância, mas não exagere...


Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.

Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.


Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.

Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!

Caminhar faz bem,
Dançar faz bem,
Ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem;

Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde.
E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda.
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.

Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca.

Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada"




(Luís Fernando Veríssimo)



Obrigada Dudu! Ganhei o dia!

segunda-feira, abril 23, 2007

Na viagem à Croácia


As estradas eram veias abertas, rasgadas. Onde a poeira misturava-se ao suor pelas janelas abertas do carro. Na paisagem caramelo do outono era o único modo de chegar ao alto da colina. Entre solavancos, subidas e descidas, aos poucos nos aproximávamos ao último povoado. Deixamos para trás 800 quilômetros de estrada, e agora, cansados, ansiávamos pouco. Não queriamos banquetes, nem grandes acomodações. O organismo chamávamos à coisas mais urgentes.
Nosso primeiro anfitrião foi um simpático cachorro preto de olhos escuros e meigos. Depois vieram as galinhas e o galo. Todo aquele arredor era como se estivesse entrando em uma poesia bucólica do século XIX. Maravilhosamente bem, era o meu estado de espírito. Sentia-me parte de tudo, mesmo tendo crescido em praia e em uma paisagem tão distante desta. Mas ali tinha um qualquer coisa de familiar.
O almoço estava servido, as camas arrumadas, e o banheiro... o banheiro era perfeito.

sábado, abril 21, 2007

Uma ponte de vida


Duraram poucos minutos, enquanto a tosta mista derretia na prensa. Ela começou a contar dos seus dois filhos, da mãe já falecida, do marido que foi para as tropas em Angola. Eu ouvia todas aquelas histórias com um misto de surpresa e contemplação. "Eu trabalhava em confecção, mas depois do 25 de abril fechou e fiquei desempregada. Depois comecei a lavar pra fora, tudo na mão mesmo. Aos poucos comecei a fazer algumas horas aqui no bar e já estou aqui pra mais de 20 anos", contava orgulhosa e sorridente. Lamentou-se somente não ter tido mais filhos por causa do período difícil do desemprego. "Casei nova, com 19 anos, mas nem por isso digo para as pessoas não casarem", em resposta ao senhor que pouco antes dirigiu-se a mim dizendo "não cases nunca". Desconhecia o motivo do seu comentário desencorajador, até porque, pensava, agora é tarde demais. Sentia-me realmente lisonjeada pela confiança que aquela jovem senhora tinha por mim. Naquele momento eu era alguém como ela, alguém de casa, que conhecemos há anos e a quem podemos contar particulares de vida no simples ato de compartilhar e doar um pouco de experiência e humanidade. E enquanto ela falava, as perguntas mentais surgiam como fungos. Como foi que chegamos a este grau de proximidade vendo-nos apenas nas minhas 6 horas de trabalho por semana, porém de um ritmo avassalador? Quando foi que esta ponte foi construída? Estava literalmente extasiada e estranhamente feliz. Segundos de silêncio. "Menina, acho que minha tosta está pronta". Sorrimos com olhares cúmplices. Eu fui entregar a tosta e ela desapareceu atrás da máquina de café.

quarta-feira, abril 18, 2007

O estereótipo do croissant de queijo

Foi enquanto eu cortava o croissant que comecei a prestar mais atenção aos meus gestos, ao meu modo de pegar a faca, de passar a manteiga, de selecionar quais fatias de queijo cabem em cada tamanho, de não cortá-lo até separar as duas fatias. Prefiro assim, para que o queijo não transborde por todos os lados quando o calor da prensa fizer o seu trabalho. Adoro aquele perfume, de queijo fundido no croissant quente. Não qualquer queijo, alguns têm cheiros muito desagradáveis quando derretidos. Eu gosto é de queijo lanche, cortado em fatias médias.
"Aquecido", "cortado", "no prato", "inteiro", "frio", "com uma fatia de queijo", "grande", "pra levar", "pequeno", "muito quente", "só um bocadinho"... são as possibilidades. E cada um quer de um jeito. Um croissant não é igual ao outro. Mesmo o ritual de escolher é diferente, "maior", "menor", "mais branquinho", "mais assado". Para as mulheres costumo escolher os menores e mais branquinhos. Uma associação à delicadeza, suavidade. Aos homens os bem assados e grandes. Incrível como os estereótipos estão presentes também nas nossas pequenas escolhas. Escolho o croissant, corto, separo as fatias de queijo que já estão grudadas devido ao calor, ajeito no croissant para que não transborde e coloco na prensa. "O próximo por favor!"

quarta-feira, abril 04, 2007

Pascoa sinistra...


Vim passar a Pascoa aqui em terras macarronicas, alias, deveria escrever este post no outro blog mas estou com preguiça de mudar agora. Enfim, estava dizendo, vim para Italia passar Pascoa com a idéia genial de passar 2 dias ao mar. Maior fria! Literalmente. Ja peguei neve, frio, chuva, vento de cortar a pele... sinceramente, me transferi para Europa de idiota. Passo maior trabalho com o frio, nao aguento mesmo. Minha querida amiga Ane adora o inverno, diz que as pessoas sao mais bonitas, melhor arrumadas. Até pode ser, ainda mais minha querida Ane que é sempre chiquerrima em qualquer estaçao, mas os meros mortais como eu... aiaiai é frio demais. Ainda é ver para crer, "sera que vai dar praia?".... "se nao chover!"

Vou curtindo vinhozinho e cobertor de orelha por enquanto.

Beijos e boa Pascoa com os ovinhos congelados :P