segunda-feira, março 31, 2008

Aos pedaços

Ontem renasci, para hoje morrer novamente. Alta, baixa, cheia e vazia... mulher que ama demais. Mulher montanha-russa, mulher que não sabe ver o pêlo, somente o elefante. Mulher de sentimentos gigantes em um pensamento tão pequeno. Mulher que não sabe perder, que não sabe ver, que não sabe reconhecer. Perdida, esta alma. Triste e solitária sem querer. Assassina da própria felicidade. Quem és tu, ingrata? Que dentro de mim fazes o que queres? Por que sempre tentas arrancar de mim o que de belo construo? Vento maldito que faz desmoronar meus castelos, minhas fortalezas. Sei que não sou fraca, por isso, deixe-me em paz. Preciso caminhar, preciso abraçar, preciso acreditar que é possível. Estou perdendo lentamente o quê de belo tive. E por quê? Por quem? Por ti, maldita que só pensa no teu bel prazer mundano, na tua casa e nas tuas chaves... estúpida! Sabes o quanto te desprezo quando revelas em mim as sombras de um passado amargo. És uma infeliz, que não suporta a felicidade em mim. Matas tudo o que de bonito pode existir, Dona do inverno! Faz-me chover todos os dias, essa é a tua alegria. Enquanto eu, inundada de incertezas, vago pelos cantos desta casa, outrora tão aconchegante e quente, tentando tocar mesas, cadeiras e vasos, para sentir destes objetos inanimados algum calor, alguma esperança. Para sempre condenada a viver de memórias... sou um baú sem fundo onde o que se vê é somente a ausência.

2 comentários:

Unknown disse...

viiiiixi :P quanta profundeza... bjo pra tu!

Carlos Ferreira disse...

O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. É preciso paciência. Porque o tempo parece nunca mais acabar e somos projectados para um ponto muito longe de convívio entre os humanos. Faz parte do sofrimento deturpar as coisas, vê-las através de lentes tão forte que facilmente entontecemos, nos desequilibramos, caímos. Temos medo de tudo, de nós mesmos. A simples superfície das coisas nos agride. Somos assaltados por demónios que nos roem a alma. É um tormento em que nos atormentamos. É preciso ter paciência e o mais das vezes não a temos. A violência da vida bate-nos em cheio. Procuramos abrigos e todos cedem e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso, ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para ela nem encontramos motivos. O mundo todo é um mal-entendido que aguardamos que se resolva ou estoire e enquanto nada acontece sofremos. Agarramo-nos a coisas que se nos escapam entre os dedos. Só a morte está por todo o lado desperta, cerca-nos, olha-nos com olhos muito abertos, mete medo. Fechamos os olhos, mordemos os lábios, fugimos para debaixo da cama e não há maneira. O amor é uma coisa tão distante, tão impossível. Vivemos, momento a momento, uma solidão que nos aperta a garganta, faz de nós o que quer. Uma música, uma palavra, a folha caída e é o suficiente para nos trazer uma irremediável precisão de chorar. E quando choramos não sabemos bem porque o fazemos, é só a tristeza a tomar conta de nós. O sofrimento pode ter sentido, transforma-nos por dentro. Meu Deus, fazei que assim seja. Dai-nos paciência e uma pequena esperança. Ajudai-nos a aceitar quem somos. Salvai-nos da confusão. Obrigai-nos a prosseguir, porque ignoramos.»
Pedro Paixão - Amor Portátil